sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Origem ou essência?




























O que motiva o artista-artesão de anteontem
é o mesmo que o Artista de ontem ou o editor-de-Artes de hoje?



























Antes de pensar nas origens do atual conceito, ou consenso do conceito, da palavra arte [ou Arte], vejo-me tentado a regredir ainda mais nessa história que busca definitivas origens, e pensar na origem do primeiro conceito, aquele que abrange desde o artesão até o pintor, do escritor ao ator e ao jardineiro, em suma: “toda atividade humana realizada com habilidade e graça”. Antes que o séc XVIII imprimisse na história da arte uma revolução conceitual na sua apreciação, produção e comercialização, os objetos de arte criados antes destas revolucionárias conceituações, já pareciam atender às mesmas exigências “transcendentais” criadas com a emancipação das “Belas Artes”.

Indo ainda mais além, muito antes, os gregos, que muito embora já desfrutassem de sofisticadas técnicas para a dramaturgia e a escultura (ou como era para eles, as mimesis , ou “'artes' da imitação”), por exemplo, não tinham sequer uma palavra que representasse arte. No entanto, aquilo que reconhecemos como arte, ou mesmo Arte, lá, e talvez em toda a cultura humana, já fervilhava. O mesmo podemos pensar, indo ainda muito mais bruscamente além, das figuras nas paredes das cavernas no tempo dos homens mais primitivos. O que era aquela conjuntura de emoções e razões que entrelaçavam-se mutuamente numa tentativa de corromper a ordem natural do espaço-tempo numa atividade criadora da manifestação de um desejo e/ou uma idéia a ser tão emergente e eficazmente comunicada? O que será essa estranha e talvez muito primitiva e essencial força humana que o faz interpelar a realidade na tentativa de promover uma ação criadora/destruidora? Vejo-me então diante do enigma da “Inspiração”, conceito talvez não tão explorado, ou ao menos valorizado, pelos intelectuais da arte [mas que registre-se nessa sentença a minha completa imaturidade intelectual e ignorância cultural a respeito do assunto], mas que provavelmente está intrínseca e mutuamente relacionado à toda e qualquer ação-artística, seja nos moldes do conceito anterior ao séc XVIII, seja no modelo moderno, ou mesmo no pós moderno e/(ou?) contemporâneo.

Inspirados trabalham o ator, o jardineiro, o poeta, o marceneiro, o pintor, o escritor, e até mesmo o sapateiro! Mas trabalha todo sapateiro inspirado? Todo pintor parte da inspiração? Toda poesia tem em seu cerne uma iluminação inexplicável? Não necessariamente... No entanto, o que os fez separarem-se em inúmeras novas formas de conceituação foram, provavelmente, suas diferenças de propósito. Não muito antes do séc XVIII, Arte, Ciência e Religião estavam intimamente entrelaçados. Mas a ciência cada vez mais focada numa tentativa de constatar e manipular a realidade racional do universo físico foi afastando-se da religião, que por sua vez focava-se cada vez mais nos métodos empregados para a comprovação de suas crenças irracionais e ritos tradicionais. A Arte emancipou-se nem tão abstrata quanto a religião, nem tão racional quanto a Ciência, traçando assim na história do humano uma espécie de ponte entre a racionalidade científica e a “espiritualidade” religiosa, e assim refletindo num único espelho nossa densa contradição de paradoxos que sempre formaram [ou formataram] nossa vida em sociedade.

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